O conceito do meu trabalho é retratar a forma como a cultura de terreiros influencia o carnaval de Salvador, Bahia, Brasil. Os blocos afros, conjuntos de música e de dança são as raízes decisivas da identidade da festa. A cidade em si é enraizada na cultura africana, e o carnaval é apenas um reflexo disto. É a maior expressão de vida que o povo baiano tem.

As festas populares formam a alma deste povo, que é absolutamente sincrético e mistura o profano com o sagrado. A matriz africana é inerente ao carnaval na questão religiosa, estética, musical, comportamental e populacional. Somos formados por três matrizes que por tradição são muito festivas: a raiz indígena, a africana e a portuguesa. O resultado é o movimento presente em todas as nuances desta sociedade.

A música e a dança são a identidade da Bahia. Salvador é uma cidade extremamente musical. Em todo canto, ouve-se música e vê-se dança. Em todas as ruas, sempre há no mínimo uma casa com o aparelho de som nas alturas e pessoas dançando. Não são ensaiadas, mas são manifestações naturais do que se já está no sangue desta gente.

O modus operandi do baiano comum é movimentar-se com energia e fluidez, e enxergar beleza em tudo. É algo que está na pele.
Portanto, o meu projeto pretende conciliar a imagem da Bahia clássica de Dorival Caymmi, Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé e a Bahia moderna do pagode, dos blocos afro e dos trios elétricos. Conciliar o religioso e o carnavalesco. Criar uma paramenta que represente a dinamicidade, energia e magia, presentes em ambos os ambientes: terreiro e avenida.

A cor branca, cor do efùn, de Oxalá, dos orixás Fun-fun é a que vai reger a peça. Esta é a cor escolhida pois é uma cor universal vestida dentro dos templos religiosos de candomblé e é a mistura de todas as cores. É a cor da luz, da iluminação espiritual. O ápice do transe experimentado pelos neófitos da religião é interpretado por mim com a cor branca. A intenção é transformar o indivíduo que dança com esta peça em uma pintura de Carybé.