“Escamas”, é uma instalação criada em 2023 de dimensões variáveis, que pode ser adaptada a qualquer espaço, seja interior ou exterior, composta por cacos de faiança em chacota sobre o chão. A instalação é formada a partir do encaixe e sobreposição, ao qual são produzidos um ou vários núcleos gerados do interior para o exterior, desvanecendo à medida que o centro cresce.
Francisca Neves, 1999, Cucujães.
Licenciada e Mestre em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha. Desde 2018 que participa em exposições coletivas, como atualmente “Arte na Leira” 26ª edição, projetos artísticos, residências artísticas pelo país, para além de participar também cria workshops. Em 2020 publicou Edições da Sala 5- Vol. IX- Publicar em tempos de Pandemia. Desde 2023 tornou-se sócia na Cooperativa Árvore das Virtudes.
Dado o meu privilégio de ter estudado e residido nas Caldas da Rainha, tive a oportunidade de reunir louça de faiança das fábricas “Bordalo Pinheiro”, “Molde” e “Duro”, nas quais obtive diferentes formas, texturas e tamanhos. Dou preferência à louça em chacota de forma a poder dar cor às esculturas.
Algumas esculturas não têm formas em concreto, é algo que pretendo deixar ao critério de quem as observa, dando asas à sua imaginação. Por outro lado, há esculturas que têm como fonte de inspiração os caminhos. O percurso destes despertou-me durante o meu quotidiano, vejo caminhos onde estes não existem, como por exemplo o cimento quebrado, o percurso da água na areia em direção ao mar, as raízes das árvores, os altos e baixos da terra, entre outros exemplos… estes são caminhos espontâneos que o homem não concebeu, como os caminhos no mato que são causados pelo pisar do solo.
A vida é um caminho na qual o percorremos, este caminho gera outros, uns mais acertados que os restantes, mas quando optamos pelo caminho errado e não correu como esperávamos temos de corrigir o erro, reconstruir a partir dos destroços. Os desafios trazem dificuldades e novos caminhos aos quais é necessário adaptação, corrigindo o erro para recriar o equilíbrio. O caminho não tem início nem fim, tal como as esculturas, que não têm nenhuma posição em concreto, podendo-se observar de diferentes perspectivas.
Quanto mais caminho, mais quero caminhar, tal como na criação das esculturas, quanto mais crio, mais quero criar. Os caminhos são espontâneos, têm curvas, equilíbrios e desequilíbrios, são livres, formam-se aleatoriamente, tal como as minhas esculturas. Eu vejo caminhos nos cacos de cerâmica quando os quebro, ou quando já vêm da fábrica quebrados. Quanto mais quebro mais caminhos encontro.
Valorizo o desperdício para encontrar o equilíbrio, pois a aceitação mostra-me o que vejo de outra perspetiva, por isso trabalho à volta do erro, da quebra, do defeito, do desperdício, da inutilidade, que me traz o incentivo de criar. Ao quebrar as peças de cerâmica liberto-me e renovo, dou outra vida ao que foi rejeitado. A procura do equilíbrio na construção de cada escultura a partir do encaixe, colagem e sobreposição, é constante.
Pretendo chamar a atenção do observador com as diferentes formas de sobreposição, direções e texturas de cada peça, como estes foram pormenorizadamente escolhidos e posicionados.
Denominei o projeto “Respigar” por colecionar matéria desperdiçada, neste caso a louça em cerâmica das fábricas. O projeto encontra-se em desenvolvimento, pois sinto necessidade de continuar a criar até à exaustão.